DIÁLOGOS COM A FILOSOFIA CLÍNICA?

Por Fernando Fontoura

Este texto inicia com uma pergunta em função da tão aclamada interdiscicplinaridade! O que é interdisciplinaridade e quais os critérios (se existem!) para se ter uma? De forma bem geral, pegando a própria palavra interdisciplinaridade, inter vem de relação e disciplina de ramo ou setor. Então, uma relação entre setores diferentes. Matemática e biologia ou física e culinária, por aí! No caso aqui, vou mencionar uma tal interdisciplinaridade entre filosofia clínica e as psis e suas variantes (psicologia, psicanálise e psiquiatria). É possível ou essa interdisciplinaridade? Primeiro, qual o objetivo ou vantagem de uma interdisciplinaridade? De froma geral, 1) aumentar o conhecimnto de ambas as áreas, 2) trocas de experiências sobre pesquisas, métodos e resultados, 3) integração entre “saberes”, por aí!

Mas antes de fazermos uma vantajosa interdisciplinaridade, nos termos acima, precisamos delimitar com clareza o horizonte de cada setor ou ramo ou disciplina. Priemeiro lembro de Aristóteles “Mas é preciso também lembrar o que dissemos, e não buscar o rigor da mesma forma em todas as questões, mas em cada uma de acordo com o tema proposto e na medida dessa investigação. Na verdade, o carpinteiro e o geometra procuram o ângulo certo de maneiras diferentes (Ética a Nicômaco, 1098a 25)”. Também me vem à cabeça Edmund Husserl com sua mania de delimitar e diferenciar áreas e conceitos, quando estes são usados em várias áreas, porém de maneiras e para fins diferentes. Em Investigações Lógicas: Prolegômenos à Lógica Pura, ele adverte para perigosa falta de delimitação dos domínios a seres estudados, “Mais perigos é, entretanto uma outra imperfeição na delimitação do domínio, a saber, a confusão de domínios, a mistura do que é heterogêneo numa pretensa unidade de domínio, especialmente quando se funda numa interpretação totalmente errônea do objeto cuja investigação pretende ser o objetivo essencial da ciencia visada”. Ele chama essa confusão de μετάβασις εἰς ἂλλο γένος, e usa em grego mesmo como aqui está. Em uma tradução livre podemos dizer que é um transição de uma coisa [conceito, prática, técnica, definição,…] para outro gênero [que não o seu orignário]. Mas qual o mal disso? Isso não é uma tal interdisciplinaridade? Não. Isso é confusão. E uma confusão epistemológica – de conhecimento. O que pode causar essa confusão? Diz Husserl, “fixação de objetivos inadequados; emprego de métodos principalmente errados, porque incomensurávieis com o verdadeiro objeto da disciplina; confusão de estratos lógicos, de tal modo que as teses e as teorias, frequentemente sob as roupagens mais extravagantes, deslizam para o meio de sequencias de pensamentos interiamente alheios, como momentos aparentemente secundários ou consequencias acidentais etc”. Finaliza ele citando Kant, “Não é crescimento, mas desfiguração das ciências, quando se confundem as suas fronteiras”.


Bem, penso que está estabelecida aqui, de forma muito resumida mas objetiva, a speração ou dleimitação saudável epsitemologicamente entre os domínios antes de se relaizar uma tal interdisciplinaridade. finalizamos esta primeira parte desse texto – terá mais partes adiante – com Thomas Szasz no seu livro O Mito da Doença Mental. Atento a essa cnfusão de domínios, escreve ele, “É impossível submeter o conceito de doneça mental a uma análise sem que antes esbarremos com o conceito de doença comum ou corporal. […] Assim, o termo doença refere-se primeiramente a uma condição biológica anormal cuja existência pode ser afirmada, seja essa afiramção falsa ou verdadeira, pelo paciente, pelo médico ou por outros. […] os médicos são treinados para tratar de doenças corporais – e não de “doenças” econômicas, raciais, religiosas ou políticas. […] Estritamente faando, portanto, a doença ou enfermidade só pode afetar o corpo. Consequentemente não pode existir algo como doença mental. Essa expressão é uma metáfora. […] Em outras palavras, eu afirmo que doença mental está para doença corporal assim como um mau programa de televisão está para uma televisão com defeito. É claro que a palavra “doente” pode ser usada, e frequentemente o é, num sentido metafórico. Dizemos que certas brincadeiras são “doentes”, que a economia está “doente”, e algumas vezes dizemos que o mundo interio está “doente”; mas é somente quando chamamos as mentes de “doentes” é que sistematicamente confundimos e estrategicamente interpretamos de forma errada a metáfora pelo fato. […] É como se um telespectador mandasse consertar uma televisão porque não tivesse gostado de um porgrama que viu nela”.


Finalizando de verdade agora, lembrei de Michel Foucault no livro Doença Mental em Psicologia, onde escreve, “Se se define a doença mental com os mesmos métodos conceituais que a doença orgânica, se isolam e se reúnem os sintomas psicológicos
como os sintomas fisiológicos, é porque antes de tudo se considera a doença, mental ou orgânica, como uma essência natural manifestada por sintomas específicos. Entre estas duas formas de patologia, não há então unidade real, mas semente, e por intermediário destes dois postulados, um paralelismo abstrato. Ora o problema da unidade humana e da
totalidade psicossomática permanece inteiramente aberto. […] Gostaríamos de mostrar, pelo contrário, que a patologia mental exige métodos de análise diferentes dos da patologia orgânica, e que é somente por um artifício de linguagem que se pode emprestar o mesmo
sentido às “doenças do corpo” e às “doenças do espírito”. Uma patologia unitária que utilizasse os mesmos métodos e os [mesmos] conceitos nos domínios psicológico e fisiológico é, atualmente, da ordem do mito, mesmo que a unidade do corpo e do espírito seja da ordem da realidade”.


Muito bem, finalizo aqui o [resumo] do argumento sobre a diferenciação objetiva dos domínios antes de uma possível (se for!) interdisciplinaridade. Em próximo escrito vou me ater às críticas conveituais que diferenciam abissalmente a Filosofia Clínica das outras abordagens terapêuticas, tentando, inicialmente, mostrar o horizonte de domínio da Filosofia Clínica.

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Publicado por epochefilosofiaclnica

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