Por Fernando Fontoura
Dentro da metodologia terapêutica da Filosofia Clínica está o eixo chamado Estrutura de Pensamento. Mas o que é isso e qual seu papel na terapêutica?
A Filosofia Clínica parte de um pressuposto de que tudo ou tem sua fonte no pensamento ou acaba voltando a ele em algum momento. Na primeira – tudo sem sua fonte no pensamento – podemos dizer que quase tudo o que vem a ser no mundo passou antes pelo pensamento de alguém. Em seus pensamentos um arquiteto ou engenheiro criam, em primeiro lugar, seus esboços de seus projetos. Um livro de ficção ou de não-ficção foi criado, mesmo que de forma geral, nos pensamentos do escritor ou escritora. Ideias revolucionárias no mundo ou aquelas mais prosaicas ou cotidianas tiveram, muitas das vezes, sua origem em um pensamento. Sem falar daquelas coisas que nascem no pensamento e ali fazem morada, sem nunca efetivarem algo além do próprio pensar. Alguns ruminantes filosóficos, por exemplo, que nunca escrevem nem sequer publicaram ou falaram sobre seus pensamentos. Todas ideias com muita vida e energia, mas somente dentro de seus próprios pensamentos.
Na segunda hipótese – de que as ações acabam por influenciar o pensamento – há pessoas que efetivam ações no mundo primeiro e depois os efeitos dessas ações voltam ou instigam o pensamento. Primeiro a ação no mundo, depois as ideais relativas a essas ações. De certa forma, mesmo nestes casos, as ações no mundo não tendo uma origem, digamos, puramente nos pensamentos, mas sim na ação, em algum momento essa pessoa pensará ou nutrirá um ideia a respeito dessas ações, nem que seja para comunicá-las a outros ou justificá-las, mesmo que seja para ele ou ela mesmo.
Portanto, de alguma forma, tudo passa pelo nosso pensamento, pois ou se origina nele ou volta a ele e o influencia. Essa ideia de alguma forma combina com o pensamento da ética grega antiga onde o que importa para se conhecer alguém não é o que essa pessoa fez ou faz, mas as motivações ou intenções que estão nos seus juízos, ou seja, nos seus pensamentos. Mas como saber quais são seus juízos? Conversando com ela.
A metodologia da Filosofia Clínica está voltada para que o terapeuta filósofo clínico, a partir da metodologia, tenha acesso aos pensamentos do outro sobre si mesmo, sobre o mundo ou sobre as outras pessoas que envolvem sua narrativa. Ao ter acesso a esses pensamentos, via narrativa do outro, a Filosofia Clínica percebe que há uma rede ou malha de pensamentos que se interligam e perfazem um sistema ou uma estrutura. Não é somente a importância de um ou outro pensamento, mas a noção de conjunto dessa malha, desse sistema, dessa estrutura que é a base para uma terapêutica na Filosofia Clínica. Ao acessar a estrutura de pensamento de uma pessoa, um mundo inteiro de ideias sobre os mais variados assuntos se apresenta. Esse mundo e essa forma de ligação entre as ideias, essa estrutura, é única, irrepetível, portanto, singular.
No final das contas, a estrutura de pensamento em Filosofia Clínica revela a singularidade de cada pessoa, sua “natureza” irrepetível e originária. É a estrutura de pensamento que possibilita ao filósofo clínico o reconhecimento de que cada terapia é feita para cada pessoa e que nenhuma forma ou estrutura de pensamento é igual a outra.