Por Fernando Fontoura
“Há, por exemplo, um bloco de metal no porão do Gabinete de Pesos e Medidas, fora de Paris, cercado por três redomas de vidro para protegê-lo de qualquer coisa que possa danificar sua superfície. Este é o quilograma padrão com o qual todos os outros quilogramas do mundo devem ser comparados. Mas, por favor, note: não há cérebro humano em qualquer cuba no Smithsonian ou no Instituto Nacional de Saúde Mental, ou em qualquer outro lugar, que represente o “cérebro normal” ao qual todos os outros cérebros devem ser comparados. E se não existe um cérebro padrão ou normal, então como podemos dizer quais cérebros em nosso mundo são normais e quais são anormais?” – Thomas Armstrong. The Myth of ADHD Child, p. 76.
Há na psiquiatria, de forma implícita, uma normatividade de como deve ser uma pessoa “normal” e qual tipo (ontologia existencial) ela deve seguir enquanto ser humano normal. Como seria o ser humano psiquiátrico? Quais são os critérios de ser que a psiquiatria biológica impõe enquanto norma?
Qualquer que seja essa normatividade, ela não é médica, é moral/social/política. Como qualquer teoria moral, o discurso da psiquiatria biológica é político/social e não médico. Através dos mandamentos bíblicos as religiões tentam impor ou convencer em suas catequeses como devem se comportar ou pensar seus fiéis. O mesmo discurso faz a psiquiatria biológica através de sua bíblia, o DSM!
A diferença é que um fiel de uma religião qualquer “escolhe” ir apra aquela religião, e a psiquiatria biológica nos impõe suas “verdades” moralizantes através de seus secretários psis, das instituições sociais como as escolas e juciário e por uma linguagem cheia de falácias lógicas e mitos.
É fora desses e de qualquer outro padrão que a Filosofia Clínica trabalha para revelar a Singularidade de cada um. Ser Singular é exatamente não poder ser “medido” por nenhum padrão fora de você mesmo, pois somente você pode julgar a si mesmo no tocante ao que você acha bom ou não tã bom em sua própria existência.