A ESTRUTURA DE PENSAMENTO EXISTE?

Por Fernando Fontoura

Esta é uma pergunta que ocorre às vezes tanto no ambiente da formação, com alunos e alunas, quanto no ambiente dos próprios filósofos ou filósofas clínicas.
É uma pergunta que tem o viés ontológico, ou seja, do âmbito da explicação da existência ou da realidade em si.


Mas então, a estrutura de pensamento existe? Minha resposta é clara: não! A estrutura de pensamento é uma ferramenta epistemológica para a compreensão do real ou do fenômeno, no caso da filosofia clínica. É uma artimanha metodológica para acessarmos o fenômeno como ele se apresenta. Só existe o modelo epistemológico porque existe o fenômeno, o real.
Portanto, a estrutura de pensamento nem cria o real ou o fenômeno nem tem existência própria em si mesma. Isso quer dizer que há outras formas de modelos epistemológicos para acessar ou entrar em contato com o real, como por exemplo, o inconsciente, os arquétipos e outras categorias psis por aí.


A diferença é que a filosofia clínica (ou em mesmo!) tem a noção de que a estrutura de pensamento é apenas um modelo epistemológico de compreensão do fenômeno e não trata esse modelo como uma substância aristotélica que tem subsistência própria. Isso quer dizer que sabemos que o real e o fenômeno sempre têm primazia. Se algo não se adequar ao modelo, é o modelo que tem que se adequar e se refazer em relação ao real, e nunca o contrário. E é justamente isso que fazem as psis, adequam o fenômeno do outro em seu modelo e querem “corrigir” o outro a partir deste modelo, com se este fosse não a descrição do real ou do fenômeno, mas a verdadeira forma de perceber e lidar com o real. É o inverso disso que faz a filosofia clínica. Para nós, só o terapeuta pode errar. Se o modelo não se adequa ao real, quem errou foi o terapeuta ao perceber o fenômeno. Não podemos dizer, como as psis e o buscador do Google dizem, “você quis dizer…”. Não podemos “corrigir” o fenômeno, e é por isso que trabalhamos com a descrição ao invés da intepretação.


Mas voltando à questão do tema proposto aqui, a estrutura de pensamento é um modelo epistemológico de acesso e percepção do fenômeno como ele aparece e só tem sentido o modelo a partir do fenômeno. Obviamente que digo isso nas formações, “O tópico pré-juízo não deixou que o indivíduo efetivasse essa ação” ou “o tópico emoção ajudou ele a se expressar melhor”. São frases que dão existência e subsistência de substância a esses dois tópicos que mencionei. É como dizer que o inconsciente contra meus pensamentos ou emoções. No entanto, como falo para os alunos e alunas, sei que quando falo assim estou usando um recurso pedagógico metafórico, pois na realidade, não há nenhum tópico deixando ou permitindo ou controlando a mim mesmo ou a qualquer outro indivíduo.


Portanto, o que vem em primeiro lugar, sempre, é o indivíduo. Não a estrutura de pensamento ou qualquer outro modelo epistemológico existente em si mesmo, pois eles não existem por si. A estrutura de pensamento só tem sentido enquanto um modelo epistemológico a partir da existência objetiva de um indivíduo e dos fenômenos que ele narra. Fora isso ela é uma metáfora pedagógica e quem quiser “enquadrar” você uma dessas fantasias epistemológicas para a partir dessas fantasias “corrigir” o real, ou seja, você, agarre sua carteira e corra para a direção oposta.

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Publicado por epochefilosofiaclnica

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