Por Fernando Fontoura
Autoajuda: normalmente os terapeutas querem fugir deste termo, pois ele traz uma noção depreciativa sobre o processo terapêutico. Por quê? Porque normalmente autoajuda quer dizer algo como uma receita de bolo que para todos é igual e que é algo quase mecânico que necessita apenas de “força de vontade” para colocar em prática. O resultado é um “novo” comportamento que atingiu o objetivo, qual uma receita faz com um bolo.
Neste sentido, nada mais enganosos do que comparar a um processo terapêutico onde há um início, meio e até um final, mas o processo depende de uma construção compartilhada entre terapeuta e aquele que faz a terapia. Muitas vezes o assunto que foi início da terapia não é o mesmo que se desenvolverá durante o processo terapêutico. E o final do processo só será descoberto “como” será no movimento terapêutico e, inclusive, o objetivo dado no início pela pessoa, pode mudar no final.
Portanto, nada como aquela noção de autoajuda acontece em um processo terapêutico, ainda mais na filosofia clínica. No entanto, tem um aspecto em que a terapia é uma autoajuda, pois ela desenvolve um autoconhecimento em cada um que entra em contato com ela. São “autos-conhecimentos”, pois são múltiplos dependendo de cada um e varia em grau para cada pessoa. Mas se pode dizer que, no final das contas, a pessoa acaba por sair da terapia conhecendo um pouco mais sobre sua estrutura interna de pensamentos, seus modos de ser etc. E, neste sentido, este autoconhecimento serve como uma autoajuda no presente e no futuro para poder dar novos caminhos ou atitudes à pessoa.
Então, podemos dizer que a terapia é uma autoajuda, mas com termos e processos completamente diferentes da noção depreciativa de autoajuda que é vendida por aí hoje em dia, inclusive em terapias “rápidas”. A autoajuda terapêutica que a filosofia clínica proporciona é de um tipo onde a pessoa poderá ter um conhecimento de si mesma de forma mais ampla – e não “profunda” – o que proporciona a ela ter mais “visão” sobre seu próprio mapa existencial, ou seja, sobre seus próprios caminhos e lugares “interiores” e como eles se relacionam com seus comportamentos externos.