por Fernando Fontoura
Um dos problemas das teorias do comportamento é que elas são datadas histórica e socialmente. Embora alguns gênios consigam ter uma visão do futuro, o que na grande maioria das vezes não se confirma do jeito que viram, a descrição comportamental do ser humano que fazem está datada pelas diretrizes sócio-histórico-políticas de sua época.
Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, em seu livro A Sociedade do Cansaço, mostra que o sujeito freudiano estava estruturado em uma sociedade disciplinária do dever e das proibições, a sociedade foucaultiana. Porém, a sociedade de hoje, segundo o filósofo sul-coreano, não é mais assim e, portanto, o sujeito contemporâneo não se estrutura mais desta forma. A sociedade de hoje é a sociedade da liberdade do poder. Não mais divisas claras e proibições, mas a liquidez de todos os limites e a noção individual de poder sem limites.
Independente se a leitura de Byung-Chul Han está certa ou errada, é apropriada ou não para nossa época, o que nos mostra é que as teorias sobre o ser humano e seus comportamentos são filhas de uma época.
No momento em que uma terapia tem com fundamento alguma teoria do comportamento humano seja ética-política-social ou ontológica, está datada em seu contexto histórico-social. Dá conta das previsões do comportamento dentro de um escopo restrito, mas à medida que muda a sociedade e os comportamentos humanos em relação a essa sociedade, corre o risco de se desatualizar em parte ou no todo.
A filosofia clínica é uma terapia formal, que não traz em sua metodologia nenhuma teoria sobre o ser humano ou sobre seus comportamentos, portanto não perde sua atualidade. Está apta, assim, a receber toda e qualquer pessoa independente de tempo histórico. Nada tem a acrescentar a esse tempo histórico, pois quem traz suas influências sociais e históricas não é o método, mas a própria pessoa que faz a terapia com a filosofia clínica.
Neste sentido, a filosofia clínica é perene e não necessita de “atualizações” teóricas. Precisa, simplesmente, estar em atividade porque as próprias pessoas que entram em contato com ela “atualizam” a metodologia.